Quando eu vi que Where Winds Meet havia sido lançado recentemente na Steam, totalmente gratuito, meu primeiro pensamento foi: “Isso não pode dar certo por tanto valor técnico”. Muitos jogos free-to-play sofrem com microtransações invasivas, mecânicas pay-to-win, ou simplesmente falta de profundidade. Mas esse jogo, desenvolvido pela Everstone Studio e publicado pela NetEase, me provou o contrário, e de forma impressionante.
O jogo estreou oficialmente 14 de novembro de 2025 para o público global. Segundo a NetEase, ele tem suporte a cross-progression em várias plataformas (Steam, Epic e PS5) e adota um sistema de monetização que promete não ser pay-to-win.
Um MMORPG de Wuxia que desafia expectativas
Where Winds Meet (em chinês: 燕云十六声) é um RPG de ação em mundo aberto com temática Wuxia, ou seja, inspirado em artes marciais clássicas chinesas, honra, intrigas e épicos de espadas. O cenário é a China do século X, durante o instável período das Cinco Dinastias e Dez Reinos.
Você pode escolher seu estilo de combate: corpo a corpo, armas à distância ou até abordagens mais furtivas. O jogo traz diversas armas clássicas do gênero: espadas, lanças, lâminas duplas, arcos, até até guarda-chuvas e leques, e combina isso com artes místicas, como tai chi ou outras habilidades especiais.
Há coop para até 4 jogadores, modos solo, PvP, guildas, dungeons e até raids ou seja, o jogo entrega muitas das mecânicas que esperamos de um RPG moderno, mas mantendo a sensação de “aventura wuxia” clássica.

Preço, modelo de negócios e polêmica
Aqui está uma parte muito importante: Where Winds Meet é free-to-play, mas a monetização é bastante cuidadosa. Segundo a própria NetEase e a Everstone Studio, o jogo não vende itens que dão vantagem de poder (“pay-to-win”), apenas cosméticos: roupas, montarias, visuais, emotes etc.
Isso tem gerado elogios da comunidade, especialmente porque muitos jogos “AAA” por aqui ou chegam com preços absurdos, ou usam compras internas que comprometem o equilíbrio. No Brasil, não é raro ver lançamentos com preços na faixa de R$ 250–350, o que representa uma porcentagem significativa do salário mínimo para muitos jogadores. Diante disso, ver algo com tanta ambição e ainda gratuitamente é um alívio para muitos.
No entanto, nem tudo são flores: durante a primeira semana, a comunidade também reagiu a montarias extremamente caras, por exemplo, há relatos de jogadores que gastaram até US$ 40 mil em uma barca mítica (“Mirage Boat”) por meio do sistema gacha. Isso gerou debates: se por um lado a promessa é de “sem pay-to-win”, por outro há quem reclame da disparidade entre jogadores que “investem esteticamente” de forma massiva e os que jogam apenas por diversão.
Minhas impressões após 100 horas de jogo
Eu decidi mergulhar, por volta de 100 horas até agora, para entender o jogo de verdade. E olha: foi uma experiência intensa, cheia de altos e baixos, mas com muito mais luz do que sombra.
Pontos que me conquistaram:
- Exploração profunda
O mundo é gigante, com mais de 20 regiões diferentes segundo o site oficial. Cada canto tem sua própria identidade: cidades antigas, montanhas, templos escondidos, campinas místicas. A sensação de “jornada wuxia” é real, você sente que está desenhando sua própria lenda. - Combate variado e estratégico
Mudar de arma ou estilo de luta faz diferença. Eu luto com espadas em um momento, depois mudo para um arco ou para uma arma mais mística. Isso me dá liberdade para definir um “meu jeito de jogar”. Conquistar inimigos mais difíceis, especialmente chefes, exige paciência, habilidade e conhecimento de suas habilidades. - Comunidade ativa
Jogar solo é ótimo, mas quando você junta amigos para dungeons ou só passear pela paisagem, o jogo brilha ainda mais. As guildas, as conversas, as intrigas entre NPCs, tudo tem potencial pra crescer conforme a base de jogadores evolui. - Beleza e atmosfera
Visualmente, o jogo entrega muito. A arte Wuxia clássica, os efeitos de luz, a música (inspirada na cultura chinesa tradicional), tudo isso constrói uma ambientação que me transporta para outro tempo. Segundo os devs, há mais de 10.000 NPCs com personalidades distintas. - Modelo justo de monetização
Não senti que precisava gastar para “ser forte”. Minha progressão até agora depende muito do meu esforço e escolhas no jogo, o que reforça a promessa de que habilidade e decisão importam mais que o tamanho da carteira.

Críticas e pontos para melhorar:
- Lag e servidores / ping
Um dos problemas que sinto principalmente em lutas mais exigentes: o ping pode pesar. Em bosses mais difíceis, a sincronia das habilidades é importante, e a latência pode atrapalhar bastante. - Microtransações visuais potentes
Embora não sejam “power boosts”, existe sim um sistema gacha para cosméticos caros, o que pode gerar desigualdade estética forte entre jogadores que pagam e os que não pagam. - Tradução e localizações
Há bastante reclamação na comunidade sobre a tradução para o inglês ou outros idiomas. Alguns textos clássicos em chinês são difíceis de traduzir sem perder nuances culturais e poéticas. Isso pode fazer com que parte do charme original se perca para certos públicos. - Curva de aprendizado
Para quem nunca jogou MMORPGs ou ARPGs de mundo aberto, pode ser um pouco intimidador no começo, o mundo é grande, há muitas mecânicas, e não há “mãozinha” forte nos primeiros momentos, o que pode frustrar jogadores casuais.
Comparações e reflexões sobre preço e qualidade
Aqui entra um ponto importante: muitos jogos novos saem caros, e nem sempre entregam qualidade proporcional. Por exemplo, muitos lançamentos AAA ou grandes MMOs exigem pagamento inicial ou subscrição, ou têm microtransações predatórias. No Brasil, onde o poder de compra é mais limitado, pagar R$ 300+ por jogo ou itens caros é algo que pesa para muitos jogadores.
Where Winds Meet contraria isso. Ele mostra que é possível entregar um jogo visualmente impressionante, com mecânicas profundas e mundo aberto, sem que os jogadores precisem pagar para “ser alguém” no jogo. Isso é um sopro de esperança para a comunidade gamer que já cansou de ver o preço subir sem justificativa.
Além disso, o fato de muitos gostarem do jogo apesar das microtransações, que são vistas por muitos como “estéticas”, reforça a ideia de que modelos free-to-play bem feitos ainda têm espaço para arrasar.
Olhando para o futuro: o que espero e o que pode vir
Com base no que já joguei, minhas expectativas para Where Winds Meet são altas:
- Que o estúdio continue a expandir o mundo com novos conteúdos, regiões, quests épicas e missões de guilda.
- Que melhorem a localização, especialmente o texto Wuxia original, para preservar o sentimento poético e histórico.
- Que otimizem os servidores para reduzir o lag, especialmente em combates cruciais.
- Que disponibilizem mais cosméticos bons, mas mantendo o equilíbrio para que quem paga não “vença pela carteira”.
- Que a comunidade cresça de forma saudável, com eventos, guildas, PvP e coop bem estruturados.
Where Winds Meet é uma demonstração clara de que grandes experiências não precisam custar caro. Ele combina um mundo aberto Wuxia, combate elegante, liberdade de exploração e um sistema de monetização justo de forma rara e equilibrada.
Para mim, passar 100+ horas nesse jogo foi mais do que diversão: foi um redescobrimento do que significa abrir mão do “pagar para ganhar” e abraçar “jogar para experienciar”. Se você, como eu, quer algo profundo, bonito e justo, esse jogo merece seu tempo.

Steam: Where Winds Meet
Site oficial: Where Winds Meet oficial


